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sábado, 18 de setembro de 2021

Uma saudade - Erika Azevedo




Casa do meu avô materno, Raimundo José Pereira, pouco antes de ser demolida.

Comunidade de Água Limpa em São Gonçalo do Pará.


último aniversário dele - dezembro de 1992.


Minha avó materna, tia Gina, uma prima e minha mãe

 

Meu querido avô.


Saudade velha canção.
Saudade sombras de alguém
que os tempos só levarão
se me levarem também. 
(Fernando Pessoa)


Cadê o velhinho que, na porta sorria; em uma das mãos a bengala e a outra, na cara; a voz que dizia: "Você demorô!", Curral grande, porteira fechada? Onde está o sítio sem cercas, sem divisão e o andar livre sem medo de se perder? Onde está a casa de telha, vento forte, poeira... janelas de madeira, passos firmes no assoalho... menina que sonha, flor de laranjeira? Onde está o fogão à lenha, fumaça e o perfume das flores que a brisa deixava ao passar? Onde está o cantar nas madrugadas, serenatas no sereno... "êra, vorta" nas estradas, a voz firme e mansa que o tempo transformou em choro de criança? Onde vão os tempos de alegria, casa cheia, noite escura. lamparina e a viola que encantava os coraçoes com poesia, amor e oração? Onde está a chuva no telhado, o viver despreocupado com o futuro, a fé que tudo podia, gado estourado, sol quente? Onde estão as estradas de terra, caboclo em procissão, terços nas mãos? Onde está o cigarro de palha, caixinhas de pó, fogo, fumaça, gibreira, capamga dependurada na parede? Hoje, porteira aberta, carro de boi tombado, carros lotados como quando vinham visitar. Hoje, as flores que enfeitavam os quintais, enfeitam o leito eterno do velhinho que acena dizendo "Adeus".

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Sacralizar o humano e humanizar o divino, apenas o Amor.
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